ACONTECIMENTO IMPORTANTE NO BLUES HOJE - VAMOS FALAR UM POUCO DE MUDDY WATERS

 

    Ozzynho destaca👇



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Em 05/03/1968: Muddy Waters grava o álbum "Electric Mud"

Em 05/03/1968: Muddy Waters grava o álbum "Electric Mud", considerado um dos trabalhos mais próximos do Rock feito pelo bluesman.


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 Muddy Waters 

O blues é cheio de lendas e uma delas é particularmente fascinante. Alan Lomax — o homem que percorria o Sul dos Estados Unidos no começo do século 20 gravando músicas regionais para a Biblioteca do Congresso americano — estava na região do Mississippi procurando por Robert Johnson. Lomax já ouvira falar de Johnson há bastante tempo conversando com moradores da região — muitos deles blueseiros — mas não conseguia localizar o sujeito de forma alguma. Ao passar por uma cabana perto de Clarksdale, viu um jovem negro sentado na varanda com um violão. Sem pensar duas vezes, Lomax desceu do carro e perguntou ao sujeito se ele sabia onde encontrar Robert Johnson.

“Robert Johnson? Robert Johnson morreu faz uns dois ou três anos”, respondeu o jovem.

Lomax não conseguiu disfarçar sua decepção e explicou ao rapaz seu trabalho de gravar músicas populares da região num equipamento que levava no carro. Era um trabalho mais histórico que comercial, mas o jovem se animou.

“Se o senhor quiser gravar aqui. Meu violão está ali na varanda.”

Lomax aceitou a proposta. Afinal, em suas viagens, gravava praticamente tudo o que encontrava pela frente. Enquanto descarregava o equipamento, perguntou ao rapaz como ele se chamava.

“McKinley. McKinley Morganfield”.

“McKinley?”

“Isso. Mas todo mundo aqui me chama de Muddy Waters”.

A gravação aconteceu em agosto de 1941 e chega a ser divertido pensar o que Lomax faria se soubesse que estava ao lado de um sujeito que, menos de uma década depois, mudaria a história da música do século 20. A conversa em torno de Robert Johnson talvez seja lenda — provavelmente é — e, apesar de trazer certa magia, não chega perto do tamanho da lenda que o próprio McKinley se tornou. Muddy Waters pisou em Chicago pela primeira vez em 1943 com esperança de se tornar um músico profissional. Deixou para trás sua segunda esposa e um filho ilegítimo (que causou o final do seu primeiro casamento), e levou na bagagem apenas seu violão e tudo o que ele sabia sobre o blues da região. Por incrível que pareça, não foi suficiente. A Chicago dos anos 40 estava se tornando a meca do blues, mas como todo centro urbano, exigia uma música um pouco mais polida que o velho blues rural. E o jovem que durante o dia ganhava a vida trabalhando em fábricas e dirigindo caminhões não conseguiu fazer sua carreira decolar — mesmo contando com a ajuda de Big Bill Broonzy, um dos maiores músicos da cidade. As coisas começaram a mudar em 1945, quando ganhou uma guitarra elétrica de seu tio. Finalmente, conseguiu alguns contratos com gravadoras como Mayo e Columbia, mas essas canções nunca viram a luz do dia. Em 1947, conseguiu um contrato com a Aristocrat e, ao lado do pianista Sunnyland Slim, gravou Gypsy Woman e Little Anna Mae, que também não foram lançadas. Sua sorte mudou apenas em 1948, quando I Can’t Be Satisfied se tornou um enorme sucesso. Pouco depois, emplacou I Feel Like Going Home, que também explodiu. As duas canções já possuem aquilo que seria a marca do seu som: elas são melódicas (a ponto de grudar na cabeça), mas pesadas e repletas de notas graves (elas chegam a ser quase ásperas em alguns momentos). Por cima de tudo isso, uma voz poderosa e segura de si cantando sobre insatisfação e saudade. Essas duas canções não transformaram a história do blues, mas foram suficientes para mudar a vida do jovem que nem era tão jovem assim, que já havia ultrapassado os trinta anos de idade (Muddy dizia ter nascido em 1915, mas há indícios de que sua data real de nascimento possa ser 1913). Assim, largou os empregos diurnos e começou a se empenhar na carreira. Agora, era possível viver apenas de sua música.

Poucos anos depois, a Aristocrat já havia mudado de nome para Chess — que, mais que uma gravadora, se tornou praticamente uma grife do blues — e Muddy era o principal astro da casa. Mais importante que isso: Chicago tinha se tornado o centro do blues elétrico nos Estados Unidos e a música que tocava na rádio mostrava que a cidade tinha um rei: Muddy Waters.


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Nesse momento, Muddy já havia gravado algumas canções que se tornariam sua assinatura, como Rollin’ and Tumblin’ e Rollin’ Stone — que, anos mais tarde, batizaria uma banda de jovens ingleses fanáticos pelo seu trabalho. Se sua carreira tivesse parado aí, ele já seria lembrado como um dos maiores nomes do blues da época.I Just Want to Make Love To You também se tornou hino e foi regravada por muita gente. Acredito que eu já disse isso em outros textos, mas nenhuma versão chega perto da original. Sim, sua letra fala sobre sexo (e não vou nem mencionar a coragem do seu título em 1954 — treze anos antes dos Stones cantarem que “eu quero passar a noite com você”), mas na voz de Muddy, a canção ganha profundidade e se torna quase um grito de liberdade, em que o músico literalmente diz que não quer nada além de fazer amor com a pessoa para quem ele canta — junte isso ao solo arrastado de gaita de Walter e você tem uma das músicas mais sensuais que eu ouvi na vida. Mas há um verso em especial que dá uma profundidade à letra que vai além do universo do blues. O sexo sempre foi tema recorrente no blues e, assim como o whisky e o próprio blues, ele é usado para aliviar a tristeza do dia a dia — é quase uma pequena vitória em meio a tantas derrotas. Mas, aqui, Muddy canta que “eu não quero você porque estou triste, eu apenas quero fazer amor com você”. Ou seja, ele segue o caminho contrário das principais letras de blues. Enquanto o normal seria “eu estou triste porque não faço amor com você”, Muddy é mais sincero e diz apenas o que quer. Não se trata de tristeza, e sim de tesão — e como a letra inteira deixa claro, é um tesão quase irracional. 

Essas músicas — junto com a terceira, I’m Ready — ajudaram a criar a imagem de Muddy Waters em Chicago. Se os blueseiros do início do século tinham aquela aura quase mística, Muddy, aqui, começa a criar uma persona mais urbana, que começa a se confundir com o estereótipo do “macho” da época: boêmio e conquistador, perigoso e ameaçador, mas ao mesmo tempo sensível e com uma classe inatingível. E Muddy, fora dos palcos, não era muito diferente disso.

Não é à toa que todos roqueiros influenciados pelo blues veneram sua imagem. Ele fez mais pelo blues que apenas modernizar o som, ele atualizou também a imagem do blueseiro. Jimi Hendrix, Eric Clapton, Angus Young…Todos já citaram Muddy como uma de suas grandes referências. Sem Muddy, não haveria o blues como conhecemos hoje. Nem o rock como conhecemos hoje. E provavelmente você não estaria lendo esse texto. Sem Muddy, eu nunca teria gostado de blues a ponto de escrever sobre esse assunto.

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Clica nos links abaixo e ouça as canções do bluesman Muddy Waters

GYPSY WOMAN

I FEEL LIKE GOING HOME

I'M READY

MANNISH BOY (Live)

FORTY DAYS AND FORTY NIGHTS

ROLLIN' AND TUMBLIN'


Fonte: https://whiplash.net/materias/diaadia_fatos/057181-muddywaters.

Fonte: html, https://medium.com/@robgordon_sp/s%C3%A1bado-de-blues-muddy-waters-o-rei-de-chicago-31713b592358




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